terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

VENENO QUE VEM DO PASTO PÕE EM RISCO O RIO SÃO FRANCISCO.



Abaeté, Martinho Campos, Pompéu –  Boiadas que tanto inspiraram a obra do escritor João Guimarães Rosa, quem diria, se tornaram ameaça à saúde do Rio São Francisco. Tradição do Centro-Oeste ao Norte de Minas, a pecuária tem contribuído para a poluição do rio mais importante do estado por conta do manejo inadequado em parte das propriedades. Derrubada de mata ciliar, lançamento de dejetos em cursos d’água e pouco cuidado com fertilizantes são algumas das práticas que refletem o crescimento desordenado da atividade e têm reflexo sobre a qualidade da água do Velho Chico. A pecuária é tema da terceira reportagem do Estado de Minas sobre a poluição no Rio São Francisco. 

A criação de gado cresce em ritmo acelerado ao longo do rio. Dados do IBGE mostram que enquanto o rebanho em Minas diminuiu 7,5% entre 2004 e 2011, o número de cabeças de gado cresceu 15% nos 43 municípios banhados pelo São Francisco – de 1,97 milhão para para 2,27 milhões de animais no período. O crescimento se torna problemático quando o manejo não é feito de forma adequada. Um dos exemplos está no Centro-Oeste mineiro: a abertura de pastagens em Pompéu, Martinho Campos e Abaeté é apontada como uma das causas para a grande quantidade de fósforo nas águas do São Francisco na região, segundo relatório do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) concluído no terceiro trimestre de 2012.
No ponto de coleta da confluência com o Rio Pará, foram encontradas quantidades de fósforo 430% superiores ao limite de tolerância estabelecido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). O nível máximo não poderia ultrapassar 0,05 miligrama por litro de água, mas chega a 0,215 no ponto de medição. A presença de fósforo é prejudicial à fauna aquática porque favorece a proliferação de algas e micro-organismos que consomem o oxigênio das águas, além de dificultar a penetração da luz solar no interior do rio. A presença de fósforo também propicia a reprodução de cianobactérias que podem produzir toxinas com efeitos danosos à saúde humana e da fauna. 

“Os efeitos das grandes concentrações de fósforo na água são tão nocivos quanto os do esgoto doméstico”, compara o coordenador do laboratório de Ecologia de Peixes da Universidade Federal de Lavras (Ufla), Paulo dos Santos Pompeu. “A pecuária sozinha não é uma vilã, mas é um grande problema quando associada ao desmatamento e à perda ciliar”, acrescenta o especialista. Ele ressalta que há formas sustentáveis de ampliar a atividade, com manutenção florestal. “Isso impede o assoreamento, que torna os rios mais rasos e com menos peixes”, diz. 

Fertilizantes 

Ao percorrer pastagens de beira de rio entre Martinho Campos e Pompéu é possível constatar que matas ciliares que serviam de proteção para as margens são suprimidas para dar lugar a capim e cercas. No encontro das águas mansas do Rio Pará com o curso turbulento do Rio São Francisco, a água é espessa e há concentração de nutrientes, onde florescem aguapés. Tambores plásticos de fertilizantes ficam espalhados nas pastagens novas e plantações de cana-de-açúcar, alguns deles em meio à água empoçada das chuvas. É com as precipitações que fertilizantes dissolvidos no solo chegam ao leito do Velho Chico e do Rio Pará.

Os currais também não são preparados para tratar excrementos e implementos agrícolas e acabam despejados em valas que correm pelo solo e invariavelmente atingem as águas do rio. Em Abaeté, onde a pecuária é um dos símbolos da cidade de clima sertanejo, nem mesmo o parque de exposições municipal se preocupa com os lançamentos de dejetos. Valas permitem que estrume e urina do gado cheguem diretamente ao Rio Marmelada, afluente do São Francisco.

Fonte  :  Diário de Pernambuco   / Fotos da Internet

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